17 setembro 2017

31/08/2017 André Theobald. Diretor-Presidente da Energisa Paraíba e o artista plástico homenageado Alexandre Filho.

31/08 – INAUGURAÇÃO DA ‘GALERIA DE ARTE ALEXANDRE FILHO’

Alexandre Filho – Pinturas e gravura, individual do artista paraibano Alexandre Filho. Obs. Mostra inaugural da Galeria Alexandre Filho.
São 17 obras (16 pinturas sobre tela e 01 gravura em serigrafia) produzidas entre 1981 e 2017. Obras dos acervos dos colecionadores Zenóbio Toscano, Gilberto Guedes e Rosângela Figueiredo.
Dia 31 de agosto, quinta-feira, 20h (vernissage)
Até 30 de setembro de 2017, de terça a domingo, das 14h às 18h
Obs: Acesso pela Rua Agropecuarista Síndio Figueiredo (por trás da Usina Cultural)
Curadoria: Dyógenes Chaves
Organização: Gerência de Marketing, Cultura e Comunicação/ Energisa
Realização: Energisa Paraíba
www.usinaculturalenergisa.com.br
Texto de abertura
André Theobald. Diretor-Presidente da Energisa Paraíba
A Usina Cultural Energisa dá continuidade ao seu objetivo de mostrar a produção de grandes artistas paraibanos. Desta vez, propondo uma homenagem a um artista, Alexandre Filho, que tem se destacado na cena nacional (e internacional) apenas pela força da sua obra, pelo rigor e qualidade do próprio fazer artístico, tão erudito quanto “popular”. Aliás, talvez seja Alexandre o mais autêntico artista representante da nossa gente: a gente simples brasileira.
E essa justa homenagem se traduz de várias maneiras. Primeiro, dar seu nome ao novo espaço localizado no prédio do Espaço Energia; também, em exibir uma exposição com obras pertencentes a colecionadores paraibanos, o que torna essa mostra inédita e rara; e, por último, produzir uma tiragem de gravura em serigrafia, doada ao artista, que facilitará certamente o acesso de mais e mais admiradores à sua obra.
Portanto, só nos resta a gratidão ao artista Alexandre Filho e aos colecionadores que gentilmente emprestaram as obras, ao mesmo tempo que apresentamos ao público a Galeria Alexandre Filho, dedicada a mostrar a rica produção de artes visuais da nossa Paraíba, da qual Alexandre é um dos principais protagonistas.
Parabéns e obrigado mais uma vez, Alexandre. Nós é que ganhamos esse presente de tê-lo conosco.
Textos de apresentação
Por Flávio Tavares. Artista plástico e membro da Academia Paraibana de Letras
Escrever sobre pintura é um absurdo, é um falar mudo. Principalmente quando essa pintura é arte. Pura essência da arte.
Alexandre é um mestre, um mestre da terra, do planeta terra. Ele sobrevive aos tempos, a sua arte é limpa, cristalina, é um antídoto para o veneno de nossa época. Faz bem ver, tem vida e sua pureza espanta. Há saúde na sua arte, existe um clima, um ar, sua atmosfera leve é oxigenada e cheia de luz. Luz nas trevas, porque não? Que poeira venenosa é essa que acinzenta a nossa visão? Sopra um bom vento, um bom tempo liberta nossa visão e imaginação. Os nossos sentimentos são alimentados o nosso olho verdadeiro volta a ver, a sentir uma luz, uma luz da manhã. O sol nascente é sua luz. Krisma. Místico.
O artista que habita dentro do pintor Alexandre é um artista de luz, e de onde começa o sonho e clareia a fantasia, uma flutuante fantasia tropical. Ele mostra de maneira clara essa pureza no silêncio e no ar. Cada cor tem sua vida e cada vida sua verdade; cada um tem seu habitat, são independentes, são luminosas. Essas cores são mapeadas como os continentes, transpiram uma verdade na forma, é sentimental, é daqui da terra. Essência, aroma da terra, tem vida.
Alexandre Filho: o pintor da memória ecológica do Nordeste
Por Homero Homem. Escritor e jornalista
Alexandre pinta de memória. Mas é preciso distinguir nele dois tipos de memória: uma visual, outra ancestral. A primeira, consciente, documental, cheia de lirismo e dádiva, cuja base é a geografia infantil do pintor. A segunda memória do pintor, a ancestral, projeta o inconsciente coletivo do povo nordestino e, por extensão, o homem intemporal, permanente e geograficamente atípico, no que ele tem de mais permanente e mais profundo: seu diálogo velho e eterno com o reino da natureza, dilacerado, desde o aparecimento do homem, entre o verbo – construção divina e a palavra-de-ordem de destruição, usada pela serpente para envolver Adão e Eva, na questão do paraíso. Nessa ambientação ecológica desenvolve-se a pintura do Naif Alexandre Filho, pintor espontâneo que veste de cores solares sua memória ancestral e seu chão de origem; e, através dela, tanto representa a saga agropastoril nordestina, como a aventura ecológica do homem universal de todos os tempos.
Quando a pintura de Alexandre Filho se apresenta com a aparente de vestir/desnudar suas Evas, travestindo de caju a maçã da fábula, está recriando pictoriamente um mito universal; mas também dando-lhe embasamento cultural brasileiro e regionalista. Quando o pintor apresenta um anjo com uma guirlanda alada, tendo sob os pés o suporte de uma tartaruga cor de terra, que caminha, ele se aventura inconscientemente na repetição de
uma fábula antiga como o homem. Retira dos alforges da memória ancestral e projeta em sua pintura toda uma concepção cosmogônica arquiantiga; quando ele associa à figura de um boi pacífico a mãe d’água da mitologia fluvial nordestina, representa sem saber, um ciclo de vida e de economia (água mais pecuária), em oposição aos quatro fantasmas do seu nordeste histórico: a seca e a morte do gado igual à fome e ao êxodo de suas populações. O quadro é também um exorcismo. Quando, finalmente, Alexandre Filho retoma seu assunto de anjo – um anjo sempre gordinho, semibarroco, bem alimentado, como as crianças de sua região agreste bem chovida, em oposição às crianças esquálidas e natimortas do ciclo da seca e da miséria alimentar, quando isso acontece, esse pintor ingênuo está projetando e fazendo emergir em seus quadros a tradição multimilenar do gênio votivo e tutelar dos povos etruscos-romanos, representados pela criança angélica tomada como símbolo da vida em expansão e da graça em crescimento. Está também e ainda Alexandre Filho exercendo, por antítese, uma espécie de crítica social inconsciente; pois o desejo do pintor, lê-se nas entrelinhas das suas cores vivas, vitais, é o de um nordeste povoado de crianças bem alimentadas e sadias na vida real e em suas representações aladas. Sob esse ângulo dos temas pictóricos tratados com a inocência dos gestos criativos, a pintura de Alexandre Filho corresponde à poesia daquele longínquo e ecológico poeta da infância, Casimiro de Abreu, também um anunciador do paraíso infantilmente perdido pelo homem moderno: o da vida animal e o verde sacrificados pela perversão e destruição da natureza, em nome de mais um canto de sereia da velha serpente (também outra presença simbólica na pintura de Alexandre), sob o pretexto do aproveitamento intensivo, mas devastador das últimas áreas verdes da aldeia global…
Pois é: a “inocência” da pintura do “Naif” Alexandre Filho, como na fábula do Rei Nu diante do menino anti-cortesão, leva a essas cogitações apocalípticas. Porque? Porque Alexandre Filho vê o mundo com as mesmas cores infantojuvenis de um arco-íris geográfico chamado Guarabira, Paraíba; ou Quênia, África; ou Dallas, EUA; ou Mesopotâmia, ou ainda e simplesmente o homem, antes e durante o paraíso, e depois do dilúvio universal.
Por Raul Córdula (ABCA/AICA)
A arte de Alexandre Filho abre nosso olhar para visões de um paraíso terrestre. Entre anjos, pássaros coloridos, árvores, flores e frutos as feras convivem serenas com Adões e Evas barrocos, infantis e imaculados. Sua pintura é encantada, plena de signos de felicidade como são as faianças e azulejos sírios, persas e caucasianos em que a atmosfera edênica é a imagem de um mundo de paz, conforto e abundância.
Ele nasceu no brejo paraibano, na parte úmida da Borborema, e desenha desde criança. Quando começou a pintar no Rio de Janeiro, as imagens de sua terra natal afloraram em sua mente. Sua pintura plana reflete as paisagens sem perspectiva, as composições de casa sobre casa, árvores, jardins, taludes, paredes de azulejos e fachadas de gosto eclético existentes no pequeno monumento rural e urbano que é a cidade de Bananeiras.
Essas imagens mostram como a vida pode ser simples como um jarro de flores amarelas contra um céu azul ultramar e, ao mesmo tempo, complexa como um jarro de flores amarela sobre um céu azul.
No Rio de Janeiro dos anos 50, Alexandre era amigo de Gasparino da Mata, crítico de arte e colecionador. Ocupou sua casa quando ele foi morar na África, acompanhando o embaixador Souza Dantas, em Gana. Gasparino possuía uma grande coleção de quadros e Alexandre passou a conviver com obras de Iberê Camargo, Guinard, Ivan Serpa, Caribé, entre os inúmeros grandes artistas daquele acervo. Alexandre despertou para a pintura, pintou compulsivamente, fez exposições, inscreveu-se em salões de arte. Foi selecionado no Salão Nacional de Arte Moderna numa época em que isto era uma grande referência para o artista brasileiro. O Jornal do Brasil dedicou-lhe meia página. Muito cedo ele possuía uma invejável fortuna crítica, intelectuais de prestígio como Homero Homem, Luiz Canabrava e José Itamar de Freitas, encantados com sua arte, dedicaram-lhe textos.
A Senhora Ruth de Almeida Prado, especialista em artes plásticas, pertencente à aristocracia paulistana, promoveu sua arte em todo o mundo. Através dela seus quadros chegaram às primeiras coleções de importância mundial. Os bailarinos Rudolf Nureyev e Margot Fountein, a milionária Cristina Onassis, o playboy Jorge Guinle, o Barão Krupp Filho, o médico Ivo Pitanguy e o empresário Caio de Alcântara Machado, são alguns de seus colecionadores mais entusiasmados.
O grande escultor marselhês Cesar Baldaccini, ganhador do prêmio da Bienal de São Paulo, em 1967 (prêmio que recusou em protesto à ditadura militar que dominava o Brasil), questionado sobre sua visão da arte brasileira em entrevista concedida no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, declarou sua admiração pela arte de Alexandre Filho. O embaixador Paschoal Carlos Magno foi um de seus grandes amigos e colecionadores. Na sala de visita da Fundação que tem seu nome existem obras de sua autoria.
Em 1970, o marchand inglês Peter Hosenwood, da Mannhein Gallery, realizou a mostra Brazilian Primitives Contemporary Works Art, da qual Alexandre participou com dez quadros e vendeu todos. Um dos compradores foi John Lennon. Para nossa sorte a Paraíba possui muitos quadros de Alexandre Filho, em galerias de arte, acervos públicos como o Museu de Arte Assis Chateaubriand, de Campina Grande, e em coleções particulares. Fugindo das confusões e da violência das metrópoles, ele voltou para a Paraíba e está vivendo em João Pessoa há uma década. Simples e refinado como é, isolou-se para trabalhar e refletir sobre sua arte, como convém àqueles que aprenderam a viver.
Alexandre é um artista verdadeiro, criou uma linguagem própria, um alfabeto visual original composto de acordes cromáticos riquíssimos, estrutura simbólica universal e técnica inconfundível. Quando falamos de patrimônio cultural, costumamos nos referir a obras de arte, móveis, utensílios e edifícios de pedra e cal, mas sempre esquecemos de acrescentar o único e importante patrimônio que é o Homem. É este o patrimônio que mais importa: o artista vivo, dono de sua linguagem, senhor de sua arte como é
Alexandre. Um patrimônio dos paraibanos, principalmente de seus amigos que têm a sorte de vê-lo pintar com tanta pureza e verdade como fazia há cinquenta anos.
Currículo do artista
Alexandre Filho (Manuel Alexandre Filho) nasceu em Bananeiras/PB, 1932. Vive e trabalha em João Pessoa. Artista naif. Autodidata. É reconhecidamente um dos artistas mais importantes da arte naif brasileira, com obras nos principais museus internacionais deste gênero artístico. Em 1964 muda-se para o Rio de Janeiro, onde começa a pintar com o incentivo do amigo e artista Luiz Canabrava. Em 1975 volta à Paraíba, onde reside por 10 anos em Guarabira, transferindo-se depois para João Pessoa. Exp. ind.: Galeria Meia Pataca (Rio de Janeiro, 1970); Banco Andrade Arnaud (Rio de Janeiro, 1971); Galeria Eucatexpo (Rio de Janeiro, 1978); Galeria Gamela (João Pessoa, 1983); Theatro Santa Roza (João Pessoa, 1987); Escritório de Arte da Paraíba (João Pessoa, 1993); 30 Anos de pintura (Falcone Artes & Objetos, João Pessoa, 1995); Pinturas (Usina Cultural Energisa, 2012). Exp. col.: XV Salão de Arte Moderna (Rio de Janeiro, 1967); I Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia (Salvador, 1967); MIS (Rio de Janeiro, 1967); Consulado Geral do Brasil (Nova York/EUA, 1967); Galeria Lirismo Brasileiro (Lisboa/ Portugal, 1967); Galeria Debret (Paris/França, 1967); Courtney Gallery (Texas/EUA); Mannhein Gallery (Londres/Inglaterra, 1967); Festival de Arte Negra (Nigéria, 1968); Galerie Isy Brachot (Bruxelas/Bélgica, 1974); Encontro Brasil-Uruguai de Arte Naif (Montevidéu/Uruguai, 1977); Pintores populares y grabadores do Brasil (Instituto Nacional de Bellas Artes, México); Rio Design Center (Rio de Janeiro, 1986); Gabinete de Arte Brasileira (Recife, 1987); Paço Imperial (Rio de Janeiro, 1988); I Arte Atual Paraibana (Funesc, 1988). Obras nos Acervos: MAAC (Campina Grande); Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (Rio de Janeiro); Musée D’Art Naïf de L’Ile de France (Paris); Fundação Paschoal Carlos Magno (Niterói-RJ); Museu da Pampulha (Belo Horizonte); Museu Municipal Fernando Cunha Lima (Guarabira-PB); Pinacoteca da UFPB (João Pessoa); Subsecretaria de Cultura da Paraíba. Citado nos livros: Dicionário de artes plásticas do Brasil [Roberto Pontual] (Ed. Civilização Brasileira, 1970); Dicionário das artes visuais na Paraíba [Dyógenes Chaves] (Petrobras, 2015); Les proverbes vus pars les peintres naïfs [Anatole Jakovsky] (Ed. Max Fourny, Paris, 1973); La chanson traditionnelle et les naïfs [Roger Blanchard] (Ed. Max Fourny, 1975); Dictionarie des peintres naïfs du monde entier [Anatole Jakonsky] (Ed. Basilius Press, Suíça, 1976); Aspectos da pintura primitiva brasileira [Flávio de Aquino e Geraldo Édson de Andrade] (Ed. Spalla, 1979); Arte do Nordeste (Ed. Spalla, 1986); O mundo fascinante dos pintores naifs [Lucien Finkelstein]